segunda-feira, 18 de maio de 2020
É óbvio.
Semana passada uma amiga jogou algumas questões no grupo de Whatsapp, do qual também faço parte. ela questionava: “será que estamos errados? E a verdade é a deles? Será que estávamos errados esse tempo todo?”
Uma outra integrante disse "eu também estive pensando nisso.".
Eu engoli a seco aqueles questionamentos, porque eles já haviam dado uma passada pelos meus pensamentos, após o resultado da eleição de 2018. Pensei que eu poderia está errada, já que a uma grande parte optou por apertar o 1 e depois 7 na urna eletrônica e uma outra grande parte, decidiu abrir mão do voto e dessa forma pagou pra ver no que dava.
Tive esse pensamento embora os discursos de ódio e a falta de preparo visivelmente explícitas naquele candidato ainda fizessem eco na minha mente. Situação que me angustiava.
Mas a vida seguiu, lembrei que mesmo com uma ameaça constantemente dirigindo a nação, certa ou errada, eu estava a margem. E quem está a margem da sociedade está sempre resistindo, mesmo quando não se tem consciência disso. Resistir é o nosso modus operandi.
E não demorou muito, tivemos as primeiras provas de que não estávamos errados. Entre muitos escândalos e cortes de verbas, nós, os quais optamos pelo caminho mais lógico, estávamos vendo àquilo que a gente mais temia se materializar, ali, na nossa frente.
Antes estivéssemos errados, eu pensei.
Mas agora, no meio de uma pandemia, a questão ressurgi.
Será que estamos errados?
Um outro amigo respondeu a questão desesperada e desesperadora:
“Não, nós não estamos errado. Olha o tanto de gente que saiu do lado dele, e que recebia para está lá” essa já seria uma ótima resposta. Já que vivemos (ou sobrevivemos {ou melhor resistimos}) sob a sombra do capitalismo, não é mesmo?
Me arrisquei a dizer ‘Não estamos errados, não. Olha para história, veja o exemplo de figuras benéficas e justas que resistiram a criaturas autoritárias e cruéis como essa. Eles não estavam errados”.
Ele só estará certo se a lógica do mundo for outra, pensei aflita. Entretanto ainda com a esperança que a nossa lógica da compaixão, bondade e caridade (ainda que pareça está fora de moda. Mas eu falei “parece") fosse a correta.
Ok essa é uma lógica cristã, que foi a que eu aprendi com a minha família quase cristã. E agora estou generalizando. Mas não foi em cima dessa lógica que a nossa cultura foi construída? Mesmo que na prática valores como compaixão, bondade e caridade não funcione como o esperado (ou funcione como o esperado, depende de quem espera).
Mas para descobrir a verdade (porque a verdade vos libertará) pergunte aos negros, as mulheres, aos indígenas e aos demais povos do campo, as pessoas com deficiência, aos lgbtq+ como esses valores funciona na prática para eles socialmente... e a verdade chegará.
Mas de repente, enquanto minha esperança escorria, e a certeza de que eu não estava errada, parecia me abandonar. M uma outra integrante daquele grupo de Whatsapp, usa a frase que nos puxa de volta pra realidade “vocês estão doidas? olhe porque eu não estou doida, não! e nem errada. “ . A frase mais sensata.
No meio daquele delírio coletivo de incertezas sobre se o lado escolhido era realmente o correto, trazer a gente de volta para realidade, questionando a nossa sanidade por pensar que optar pelo que parecia mais justo e não pelo que a maioria achava o certo, poderia ser o lado “errado” e afirmando a sua própria sanidade, foi sim o melhor gesto de amizade naquele momento rs.
E foi ai que entendi a frase " o óbvio também precisa ser dito", e precisa mesmo. Essa frase é o título do livro do Guilherme Pintto, e eu não sei se ele discute sobre esses “óbvios” que nos traz de volta para a realidade, eu não li o livro. Espero que seja. Mas pra mim, esses “óbvios” ainda precisam ser ditos, e por favor se você for meu amigo, me diga obviedades sempre. (Sou geminiana demais e isso que dizer que, mentalmente, uma hora ou outra eu vou me perder)
Em meio a esses "surtos" derivados não só da quarentena consequente desse cenário trágico e triste de pandemia, mas também dessa situação política angustiante, caótica, humilhante, deplorável, podre... ouvir o que é óbvio parece ser uma chave importante para manter a saúde mental em dia. Ou pelo menos para não se perder no meio de tantas incertezas.
Saber que o caminho que a gente escolheu percorrer por empatia, por sobrevivência ou ambos, é o óbvio, isso por colocar, a vida, a natureza e a diversidade, a frente da destruição, do consumismo e do capital; e de fato o mais justo e menos delirante, é um conforto para enfrentar o dia a dia.
E quer saber? Isso é ÓBVIO.
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